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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pomba Gira do Cemitério

Recebi seu nome, depois de três anos trabalhando com ela, no meio da rua. Do nada, no meio da XV de Novembro, sinto sua aproximação. “Minha mãe, já que a senhora está aqui, não gostaria de aproveitar e me dizer seu nome?” E escutei: “7 Caveiras”. E só. Fiquei super feliz. Algum tempo depois, num sonho daqueles que só a Umbanda nos dá, daqueles em que saímos de nós mesmos e continuamos trabalhando junto aos espíritos maravilhosos do Terreiro, ela completou a mensagem. Tomando-me pela mão, me leva até o ponto do Seo 7 Encruzilhadas. "Hoje você vai trabalhar aqui. E meu nome é 7 Caveiras da Encruzilhada do Cemitério, mas por enquanto, tá bom 7 Caveiras mesmo. Eu trabalho da terceira encruzilhada depois do portão do cemitério”.

Quando das primeiras incorporações ficava constrangida: por mim e por ela. Tocado o ponto de Dona Maria Molambo, eu saía me contorcendo e gargalhando (muito tempo depois descobri o porquê dessas gargalhadas e porque vinha no ponto da Dona Maria Molambo). Pedia que ela não chegasse tão ‘aparecida, pois queria ajudar quietinha, sem ninguém me ver. Muitas vezes camboneei em gira de Exu, para não passar por isso. Nessa mesma época, eu camboneava, por vezes, uma Pombagira chamada Dona Ana Rosa, com a qual tenho uma história importantíssima em minha vida. Em certo dia, camboneando Dona Ana Rosa, acontece algo maravilhoso. Ela se levantou e colocou seu lenço sobre os ombros de sua médium e enquanto encostava sua cabeça na minha, trocou de cavalo. Ali estava eu, tremendo muito e incorporada com a Pombagira que tanto amava e a quem sempre recorria. A sensação que tive foi algo espetacular. A luz daquela mulher era tão gigantesca, que não cabia em mim. Saí do terreiro levitando, cantando e pulando. Essa era a energia daquela Pombagira! Luz e alegria! Fiquei maravilhada com o que senti. Os Exus são seres de muita luz! Ninguém me contou, eu vi! Por minha ligação com ela, sempre que podia, levava flores para Dona Ana Rosa, lhe fazia entregas, pedia e agradecia.

Depois de um tempo, Dona 7 Caveiras não chegava mais rindo e me explicou dentro de minha alma: queria que eu perdesse a vergonha de incorporar e não precisava mais chegar fazendo estardalhaço. Tratamento de choque. Depois de um tempo me acostumei com suas risadas e comecei a incorporar sem me preocupar. Em uma gira me deu outro importante recado. Chamou uma irmã de corrente e disse: “Diga ao meu cavalo que quero uma entrega grande. Ela só agradece a outra e na hora do bicho pegar sou eu que estou com ela. Eu fico com o trabalho pesado e a outra é que ganha flor”.

Naquele dia aprendi que podia amar outras entidades, mas devia cuidar daqueles que se dispunham a me cuidar e que por algum motivo que desconheço, se tornaram responsáveis pelo meu desenvolvimento. Ela era a responsável por mim e era quem me agüentava. Fiz a sua entrega e passei a me dirigir a ela em hora de aflições. Como disse de início, seu nome só veio muito tempo depois.

Já no toco, ficava me questionando sobre algumas coisas. Dona 7 Caveiras era muito querida com os consulentes, delicada até. Cuidando sempre da forma certa de falar, pra não magoar. Pensava eu: “ela é muito delicada pra uma pombagira caveira. Será que é mesmo Caveira? Ela deve ser mais brava, mas na 3ª energia fica mais tranqüila. Eu é que fico cuidando com o que digo às pessoas”. Que ilusão, eu achando que EU deixava a pombagira mais amorosa com as pessoas!

Há pouco tempo tive permissão de fazer uma psicografia. Queria saber mais sobre ela. Não entendia o porquê de seu ponto riscado ter 7 cruzes e não 7 caveiras que era seu nome. E como ela tinha pedido uma capa ao Seu Tranca Ruas das Almas e ele tinha autorizado, queria saber a cor pra que mandasse fazer. Esse era o meu objetivo, mas ganhei muito mais. Relato abaixo o que transcrevi ao Pai Fernando após o contato:

“Pai Fernando estou escrevendo ainda sob impacto e vibração da mensagem deixada pela Pombagira com quem trabalho, Dona 7 Caveiras da Encruzilhada do Cemitério. Pedi que ela me falasse sobre a cor de sua capa e confirmasse o ponto que normalmente risca e qualquer outra mensagem que quisesse me dar. Ela primeiro me passou um ponto cantado e depois comecei a psicografar. Ela explicou porque sua capa é preta por fora e vermelha por dentro. E enquanto escrevia, a vi no cemitério. Usava uma capa que cobria a cabeça também. Sua saia tinha muitos pedaços de esqueleto amarrados, como amuletos e que faziam barulho quando andava. Enquanto ela falava sobre sua atividade fui tomada por uma emoção tão forte...eu estava com ela, sentindo a sua história e sua emoção ao contar sobre o que faz. Chorei convulsivamente enquanto escrevia, mas com a certeza absoluta que era a emoção dela que eu compartilhava. Ainda to impactada. As imagens tão emocionantes do momento em que foi resgatada e do tipo de trabalho que faz a partir do que vivenciou após seu desencarne são de cortar o coração e ao mesmo tempo acolhedoras, confortadoras...não sei definir...sinto dela um acalanto, um carinho, um abraço tão quente e aconchegante...como um colo de mãe depois de um período de solidão e frio. A imagem que tive foi do Seu Tranca Ruas das Almas e da Dona Maria Molambo a resgatando. Logo depois, a vi resgatando uma outra pessoa de seu túmulo, senti a compaixão e a emoção que sentia ao se lembrar da situação idêntica em que estava quando foi resgatada. Ela chorou e eu também. Dentro da cova estava uma pessoa que como ela ficou anos presa ao seus restos..senti o desespero, tristeza, abandono e muito frio...solucei no momento em que ela era puxada de sua cova por Seu Tranca Ruas e Dona Maria Molambo. Senti a mudança do frio extremo, (frio do coração, da alma dela, da solidão, do corpo) para o aconchego dos Exus. Vou transcrever o que ela me ditou:

“Cravo é flor de morto. Vermelho é a cor que ilumina a escuridão. A única cor que ilumina os perdidos. Não venho condenar. Venho acolher e resgatar. No cemitério, ofereço minha capa e luz para dar luz aos que desistiram. Luz e proteção aos que querem se levantar. São os ossos dos perdidos que carrego comigo, para que se lembrem de como eram quando os resgatei. Cada um deles deixa comigo um pedaço do seu esqueleto na promessa de juntos trabalharmos em prol de outros. Suas dores são minhas dores, porque já estive subjugada pela dor. Sei o que é estar em desespero e só. Carrego os ossos para me lembrar da dor.”

A visão que tive foi emocionante. Ali, onde ela mesma sofreu por anos sozinha, presa aos seus restos mortais, agora resgatava outros, em situação semelhante. Para se ter uma vaga idéia do que senti, podem-se imaginar paralelos. Sentir seus ossos congelarem de frio e encontrar o calor de uma lareira, ou quando se encontra uma mão amiga quando já se sentia que ninguém mais no mundo se importaria com você ou como quando estamos tão carentes, sem amor e recebemos um colo de Preto Velho. Colo de Pombagira! Colo de amor, carinho e calor irrestritos. Quando nada mais no mundo existe, quando se está à beira da loucura da solidão. E essa foi a lição mais preciosa que recebi. Lembrei da luz que vi anos atrás de Dona Ana Rosa e o amor incondicional que senti de Dona Sete Caveiras linda e amorosa que, graças a Deus, cuida de mim. Refleti sobre esse amor. Refleti sobre a ingenuidade que tive em achar que era eu que infligia cuidado e delicadeza às suas palavras para os consulentes. Refleti sobre o quanto sabemos pouco destas entidades maravilhosas e que talvez eles assim o queiram. Dizem que são as entidades mais próximas de nós encarnados. Sinto-me há anos- luz de Dona 7 Caveiras! A respeito e a amo demais e sei que quando chegar a minha hora de passar para o outro plano, é ela que quero encontrar, pois sei que encontrarei em seus braços o amor e o calor que precisarei pra continuar minha caminhada!

E esta amorosa pombagira me disse, com aquele jeitinho todo cuidadoso, sem querer me magoar por me dizer o óbvio quando lhe perguntei o porquê das 7 cruzes em seu ponto riscado:
-- Minha filha, o que é que tem embaixo de 7 cruzes?
-- É minha mãe, tem 7 caveiras...

E lá se foi ela, cuidar de suas caveiras e de todos nós. Podia ouvir em minha alma o tilintar dos ossinhos amarrados em sua saia e seu cândido ponto que nos ensina que se pode ser forte e amar. Amar demais!
Sou uma rosa, sou um perfume, sou a mais bela de qualquer jardim, ouço lamentos, ouço queixumes, não há mulher que não venha até mim. Sei seduzir, me deixo seguir, a palavra dificil para mim não existe, de preto e vermelho, ou sem me vestir, homem algum a mim me resiste. Bebo champanhe, fumo cigarro, digo mil coisas sem nunca falar, sei ler na mão, jogo o baralho, a mim só me engana quem eu deixar. Se alguém precise e me queira encontrar, siga o perfume em noite de luar, diga meu nome sem se enganar, sou Pombagira, a rua é meu lar. Autor: Paulo Lourenço

POMBAGIRA SETE SAIAS DO CABARÉ

POMBAGIRA SETE SAIAS DO CABARÉ
SALVE SETE SAIAS DO CABARÉ!


DONA SETE SAIAS, É MOJUBÁ!